quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Mauritania e Marrocos

Capítulo Completo: As Águas que Separavam

1. A Fronteira no Deserto


No extremo sul do Saara, onde o deserto encontra as margens do Rio Senegal, as linhas de fronteira sempre foram mais teóricas do que reais.

Durante o período colonial, a delimitação territorial entre as possessões francesas e espanholas — e posteriormente entre Mauritânia e Marrocos — deixou lacunas jurídicas e sobreposições de mapas.


Embora a disputa tenha sido relativamente silenciosa, as tensões aumentaram na década de 1970, quando a descolonização do Saara Espanhol aproximou as fronteiras de territórios ricos em recursos pesqueiros e rotas comerciais.


2. A Faísca


Em 1975, com o fim da presença espanhola e a assinatura dos Acordos de Madri, Marrocos passou a administrar parte do território que a Mauritânia considerava sob sua influência histórica.

As áreas próximas à foz do Rio Senegal ganharam relevância estratégica:


Água para irrigação em regiões áridas.


Pesca artesanal vital para comunidades locais.


Potencial de hidroenergia compartilhada com o Senegal.


A ausência de uma definição clara de soberania alimentou desconfianças e pequenos incidentes fronteiriços.


3. A Negociação que Poderia Ter Sido


Historicamente, não houve um tratado abrangente entre Marrocos e Mauritânia sobre essa região. Mas especialistas em diplomacia acreditam que, se um acordo tivesse sido firmado nos anos 1970, poderia ter incluído:


Delimitação Mútua da Fronteira – traçada com base em critérios geográficos e etnográficos.


Uso Compartilhado das Águas – quotas de irrigação e pesca definidas anualmente, em cooperação com o Senegal.


Zona Econômica Especial Binacional – permitindo exploração conjunta de salinas, pesca e comércio transfronteiriço.


Corredor Cultural e Comercial – incentivando caravanas e intercâmbio entre comunidades nômades.


4. Os Benefícios Perdidos


Se esse pacto tivesse sido implementado, possivelmente teria:


Evitado atritos diplomáticos durante o conflito no Saara Ocidental.


Estabilizado comunidades fronteiriças e reduzido contrabando.


Criado um modelo pioneiro de gestão hídrica e econômica no Sahel.


5. Lições para o Futuro


Hoje, apesar da disputa ter perdido centralidade, a gestão compartilhada de recursos hídricos no Sahel continua sendo um tema crítico.

A experiência não vivida entre Marrocos e Mauritânia serve de lembrança:


“Quando a água é escassa, ela pode separar ou unir. Depende apenas da sabedoria de quem a administra.”

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